Lendas brasileiras

13 Lendas urbanas brasileiras

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Brasil, um país com grande diversidade cultural e étnica. Com tanto folclore para explorar, não é de se espantar que aqui existam diversas lendas e mitos dos mais variados tipos. O blogueiro que vos escreve pesquisa incansavelmente e cada vez mais encontra diversas lendas país afora.
Depois dos posts nacionais de 14 Lendas do interior do Brasil e 15 Lendas brasileiras (e muitos outros de todo o mundo, que podem ser encontrados na seção de lendas urbanas), agora trago mais 13 lendas urbanas brasileiras para vocês conferirem:


13. A Menina sem nome


1/13 | Lendas urbanas brasileiras
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Acima a foto do túmulo onde a menina sem nome está enterrada em Recife, no cemitério de Santo Amaro.
No início da década de 70, um crime brutal ensanguentou as páginas sensacionalistas dos jornais pernambucanos. Um pescador encontrou um corpo de uma criança estuprada em uma praia urbana de Recife, e nenhuma notícia sobre seu paradeiro ou identidade foi descoberta pela polícia. Apesar de o fato ter sido amplamente divulgado pela imprensa, nenhuma família apresentou-se, e a criança abandonada, cujo nome não se conhece, foi sepultada, como indigente, numa cova comum em 22 de junho de 1970.
Uma funerária local, sensibilizada com o caso, patrocinou o enterro justo, com os sete palmos de terra abaixo do chão e com as devidas homenagens finais dos populares. Dois anos depois, conta a lenda, quando foram retirar a ossada, a garotinha permanecia intacta. Do fato à lenda e da lenda à devoção, não levou muito tempo. De um dia para o outro, o túmulo começou a ser alvo da atenção da população. Com o passar do tempo, o túmulo se tornou um verdadeiro local de devoção popular.

Uma mãe que sofre por ver o filho envolvido com drogas pede à menina sem nome, considerada uma santa católica popular (aquela que não é reconhecida pela Igreja), que tire o rapaz desse caminho. E que ele volte a ser calmo como era antes. “Tire esse sofrimento de mim”, apela.

Na capital de Pernambuco, ela já é considerada realmente uma santa! Muitos pedidos dizem ser realizados após serem pedidos à menina sem nome.
Milagres à parte, dizem que a menina sem nome vive assombrando quem anda de carro à noite em Recife, ela passa no meio da rua e os carros acabam sofrendo acidentes para desviar da criança.


12. A Perna cabeluda


2/13 | Lendas urbanas brasileiras
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A lenda da Perna Cabeluda surgiu em Recife, Pernambuco, na década de 1970 (sim, novamente Recife e novamente na década de 70), sem haver uma data realmente marcada. Muitas são as explicações sobre a origem da lenda. Uma a vincula ao achado de uma perna humana cabeluda que se encontrava boiando no rio Capibaribe, caso que por não ter sido solucionado pela polícia, transformou-se em prato cheio para a imprensa, que inicialmente alimentou a esperança de encontrar alguém capaz de clarear o assunto, e por isso perguntou em suas páginas: De onde veio a perna? De quem era ela? Como foi parar no rio? Quem a amputou? Mas em vão...  Foi quando se começou a dizer que a perna mal-assombrada corria atrás das pessoas nas ruas da capital pernambucana, tudo avalizado pelo depoimento de “testemunhas” que afirmavam terem sido perseguidas por ela.
Contam elas que essa criatura assustadora rondava e aterrorizava os desavisados transeuntes que andavam à noite em lugares ermos e ruas desertas do Recife. Segundo contam os que tiveram o desprazer de conhecê-la pessoalmente, trata-se de uma perna, tão somente um membro humano inferior coberto de pelos asquerosos que parece ter vida própria e se desloca aos pulos. Como se a visão do seu aspecto perturbador não fosse o bastante para gelar qualquer coração, a Perna ainda costuma atingir as pessoas com poderosos chutes, golpes precisos que, na maioria das vezes, vão direto ao traseiro das vítimas: homens e mulheres de várias idades e classes sociais conheceram a ira insana da amaldiçoada assombração (pelo menos foi o que elas afirmaram).
E assim continuou aparecendo histórias por algum tempo, até que essa lenda ficou um pouco batida, mas ainda continua sendo falada pelo povo.
Seria um parente distante das mãos peludas de Dartmoor? Bizarro!


11. Bruxa Bárbara dos prazeres


3/13 | Lendas urbanas brasileiras
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A história que lhes trago aconteceu no Rio de Janeiro, num passado recente. Nossa protagonista nasceu em Portugal e, aos 18 anos, veio para o Brasil, acompanhada pelo marido, lá pelos idos de 1788.
Bárbara era uma mulher muito bonita e chamava a atenção de todos que a fitavam. Um deles, em especial, um mulato, cujo nome se perdeu nos ventos da história, acabou roubando seu coração e iniciando uma relação de adultério.
Há quem diga que ela se cansou do marido. Outros, ainda, que ela foi pega no flagra. O fato é que o seu esposo sucumbiu a golpes de faca da nossa bela portuguesa, que conseguiu se livrar do crime e passou a viver com seu amante.
Seria uma vida relativamente confortável com os espólios do antigo matrimônio, se o tal mulato não passasse a explorar Bárbara financeiramente. Aos poucos, o patrimônio foi se dilapidando até que, numa briga, que já era costumeira, a portuguesa lançou à mão algo que lhe já era familiar e a faca ceifou outra vida.
Marcada pelos crimes e já sem dinheiro ou esperança de iniciar nova relação com quem lhe sustentasse, Bárbara resolveu usar sua melhor arma para sobreviver. Não... Não estou falando da faca e sim da beleza.
Num lugar chamado Arco do Telles que, num passado ainda mais remoto, havia sido uma galeria com lojas de todos os tipos e passagem de gente de bem, mas se tornou um antro de prostituição após um incêndio, fez ponto a nossa portuguesa, agora sob a alcunha de Bárbara dos Prazeres. Um codinome dúbio, que fazia referência à sua nova profissão e, também, pelo fato de se posicionar nas proximidades onde antes havia uma imagem da Nossa Senhora dos Prazeres, devidamente removida pelos fiéis quando o local tomou os rumos da devassidão.
E, nesse local, Bárbara dos Prazeres fez a sua vida por quase 20 anos. Sua fama de boa profissional suplantou a de viúva negra e ela conseguiu se manter com certa dignidade, se isso é possível dentro do meretrício, por um tempo considerável.
Mas o problema, que acomete todas as mulheres que dependem da beleza, foram as marcas do tempo. Com quase 40 anos, viu sua clientela sumir lentamente à medida que as rugas esculpiam seu rosto. Tomada por desespero, passou a frequentar todo o tipo de casa de feitiçaria em busca de uma poção que a rejuvenescesse. Alguns dizem que uma bruxa velha e inconsequente lhe ensinou o segredo vindo de um dos tomos mais proibidos. Outros, ainda, que ela fez um pacto com o próprio Demo. O fato é que ela aprendeu uma forma de recuperar a juventude há muito perdida. Dentre outros ingredientes básicos, como ervas e fluidos naturais, havia um tão macabro e repugnante, que faria qualquer um desistir da contenda. Sangue fresco de crianças.
Movida pelo desespero, Bárbara dos Prazeres não titubeou e passou a sequestrar pequenos infantes, que pouca falta fariam à sociedade. Meninos de rua, filhos de escravos ou mendigos eram sua presa principal. Atraídos por promessas de doces ou pequenos brinquedos, caíam na faca, há tempos aposentada, da agora feiticeira lusitana.
As ervas eram ingeridas pelas crianças sob a ameaça da faca e, depois de entorpecidas, eram penduradas de ponta cabeça e sangradas, até a morte. O conteúdo vertido pelas veias era recolhido num balde, que serviria de material para um banho ritualístico de rejuvenescimento.
Se funcionava? Para efeitos da história, vamos dizer que sim. Ou assim ela acreditava, pois repetiu o ritual um sem-número de vezes, até que o desaparecimento das crianças se tornou evidente e os corpos começaram a aparecer. Quando os filhos dos esquecíveis se tornaram raros, a bruxa Bárbara passou a sequestrar crianças de um nível acima e a coisa tomou rumos já previsíveis. Investigações policiais, medo e pavor daqueles que prezavam por suas crias, relatos nos jornais. Todos temendo novos desaparecimentos e especulando sobre o real assassino. No entanto, a imaginação humana sempre tenta buscar um culpado do sexo masculino, deixando Bárbara livre de suspeitas por um bom tempo.
Já fazia um bom tempo que a bruxa não encontrava seu ingrediente principal, pois ele se tonou raro nas ruas. Mães trancavam seus filhos em casa e até os meninos do mundo passaram a andar em bando com medo de se tornarem a próxima vitima. 
Restou à Bárbara dos Prazeres uma opção, a "Roda dos Inocentes"! Na Santa Casa da cidade, havia uma espécie de bandeja giratória num dos muros, onde mães sem condições de criar seus recém-nascidos, os abandonavam, na esperança deles serem acolhidos e levados para um orfanato. As enfermeiras, ao ouvirem o choro das crianças, giravam a roda e tratavam do assunto.
Bárbara passou a frequentar o local e surrupiar os bebês antes que fossem recolhidos. E assim, ela passou a manter seu ritual de beleza por mais um tempo sem que ninguém a descobrisse, pois o descarte dos corpos era mais fácil devido ao tamanho reduzido.
Como ela foi descoberta é motivo de discussão. Alguns acreditam que, num momento de bebedeira, a bruxa contou, se gabando, seus feitos para uma meretriz qualquer, que, prontamente, horrorizada, acionou as autoridades. Outros dizem que, em um dos seus assaltos costumeiros, seu braço ficou preso na Roda dos Inocentes, quando a enfermeira girava em momento oportuno e suas maledicências contra a profissional, a denunciaram.
O fato é que a bruxa Bárbara dos Prazeres tornou-se a meliante mais procurada da cidade. Nessa altura, com quase 60 anos, fugida e devidamente escondida sabe-se-lá o diabo onde, nunca foi encontrada. Em 1830, o corpo de uma mulher apareceu boiando próximo ao Lago do Paço. Apesar do rosto estar irreconhecível, as descrições batiam com a feiticeira, mas nada foi comprovado.
Todavia, houveram os que recusaram a acreditar na sua morte e a lenda da bruxa Bárbara dos Prazeres se perpetuou pela história. Há quem diga que ela ainda anda por aí, mantendo seu ritual profano ao longo dos anos e se mantendo, se não jovem, pelo menos viva. Dizem que ela ainda anda por lá e sua risada, na calada da noite, denuncia a captura de uma nova vítima.


10. Stregas de Curitiba


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Strega é a palavra italiana para Bruxa. Nome comumente dado para uma seguidora da Bruxaria Italiana, Stregoneria ou Stregheria. Plural: Streghe Masculino: Stregone (pl Stregoni). O termo Strega deriva da palavra latina Strix que significa Ave Noturna.
No século dezenove um navio cheio de italianos parou em Paranaguá, no Litoral do Paraná. A maioria destes imigrantes foi para Curitiba com o objetivo de trabalhar na lavoura. Assim, nesta cidade, grande parte deles montou um bairro chamado Santa Felicidade. No meio destes imigrantes havia uma moça chamada Constantina e a sua mãe, dona Lola, sempre ralhava:
— Você precisa se preparar na feitiçaria! Afinal, você é uma strega, uma bruxa de descendência italiana. Nunca se esqueça: ninguém se torna uma strega, pois isto precisa ser um dom de nascença e este é o seu destino. Porque o castigo de uma strega que nega o seu dom é ser moça de dia e transformar-se em idosa de noite.
O problema é que Constantina não queria ser uma feiticeira, pois achava que bruxaria era coisa do mal. Porém, mesmo assim, ela notava que era diferente das outras meninas. Pois esta pequena falava com parentes falecidos, tinha sonhos sobrenaturais, premonições e muita vontade de curar as pessoas. Mas quando sua mãe a convidava para ir aos cemitérios e aprender rituais, esta garota sempre torcia o nariz.
Uma certa noite, Dona Lola levou sua filha para arrancar defuntos dos túmulos no cemitério. Porém a garota ficou com tanto pavor que saiu correndo e fugiu de casa. A adolescente andou tanto que foi parar num lugar que hoje é chamado de Campo Largo, localizado na Região Metropolitana de Curitiba. Lá, bem no meio do mato, ela encontrou um casebre abandonado onde descobriu as propriedades das ervas que curam. Naquele lugar ela socorreu uma senhora, que havia quebrado o braço, através de orações e de chás. No final, a garota pegou dois trapos, uma agulha, um fio e exclamou:
— Agora seu osso voltará ao normal. Pois ele será como os tecidos que eu costuro!
Após estas palavras a menina passou a rezar em Latim enquanto cosia.
A partir daquele fato, as pessoas passaram a frequentar a casa de Constantina, no meio da floresta, sempre que precisavam. Porém sempre quando alguém chegava, de noite, na casa dela não via a presença desta pequena e sim de uma senhora idosa, que sempre afirmava que a garota tinha saído. Assim a anciã identificava-se como sendo sua tia-avó e também ajudava com orações e ervas. Mas, as pessoas, também, notaram que quando procuravam Constatina de dia a menina sempre estava lá, mas não havia nem rastro da idosa na casa.
Um certo dia, lá pelas seis da tarde, um moleque chamado Zé foi buscar ajuda de Constantina para sua mãe doente. Então ele colocou a cabeça na janela e viu a garota virar uma velha na sua frente. O pequeno correu assustado e contou o fato para todos. Dizem que a partir daquele dia, Constantina fugiu de Campo Largo e voltou a viver com sua família no bairro chamado Santa Felicidade.


09. O Palhaço do coqueiro


5/13 | Lendas urbanas brasileiras
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Essa é uma lenda do bairro Janga (Paulista - PE). Certa vez, havia um grande palhaço, muito famoso por sua atuações e prestigiado por todos os seus colegas de circo. Este mesmo palhaço também tinha um filho que muito o admirava, tanto que quis seguir os mesmos passos do pai. Contudo, ele não teve o sucesso esperado nos palcos, e não conseguia fazer ninguém rir.
Frustrado e muito abalado, o filho do grande palhaço enlouqueceu e fugiu do circo. Atormentado pelo triste destino, o jovem louco encontrou na lua minguante o único esboço de um sorriso lhe ofertado de graça.
Desde então, sempre que era lua minguante, o palhaço subia em um coqueiro para admirar o grande sorriso lunar bem de perto. Mas, quando uma nuvem encobria a lua, o jovem encantado descia do coqueiro para buscar outros sorrisos. Quando encontrava alguém, ele começava a fazer palhaçadas sem graça. Caso a pessoa não lhe mostrasse um sorriso, ele a hipnotizava e batia até ver um sorriso.
Em uma outra versão desta lenda, contam que este palhaço matava quem não lhe mostrasse um sorriso.


08. A Missa dos mortos


6/13 | Lendas urbanas brasileiras
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Existe um registro muito popular de fatos bizarros que aconteceram na cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, no começo do século XX, por volta de 1900. O caso todo ocorreu numa pequena Igreja que ficava ao lado de um cemitério, e esta era a Igreja de Nossa Senhora das Mercês de Cima.
Quem presenciou uma dessas missas foi o zelador e sacristão da Igreja. Ele chamava-se João Leite e era muito popular e querido em toda aquela região.
João residia na sacristia do templo, cuja conservação lhe era confiada. Na dita noite ele estava deitado em seus aposentos, eram altas horas quando ouviu um ruído na capela. Aquela era uma daquelas noites frias e chuvosas de Ouro Preto, quando começa o período chuvoso em Minas Gerais. João estava com a cabeça debaixo do cobertor e todo encolhidinho para esquentar-se melhor. Ouvindo os estranho ruídos, ele levantou e se dirigiu para a Igreja, e viu na nave uma claridade anormal. Seriam ladrões? Mas o templo era pobre e qualquer ladrão, por mais estúpido, saberia que a Capela das Mercês não dispunha de prataria, nem de qualquer coisa que valesse um sacrilégio.
Enfim, tudo pode acontecer... Estava ainda nessas cogitações quando ouviu, distintamente cantado por vozes estranhas, o “Deus nos salve”. Nesse ponto João encheu-se com uma coragem de que ele próprio não se julgaria capaz, encaminhou-se pelo corredor até a porta que dava para a Capela-mor.
Penetrando por ela, verificou que a igreja estava toda iluminada, com os lustres acesos. E apinhada de fiéis. No altar-mor, um sacerdote devidamente paramentado, celebrava a missa. João Leite estranhou a nuca do padre, pelada, lisa e branca (na época o padre rezava a missa de costas para os fiéis e toda cerimônia era em latim); não se lembrava de calvície tão completa no clero de Ouro Preto, que ele bem conhecia.
Os fiéis que enchiam a nave trajavam de preto. Entre eles, alguns homens de cogula, algumas mulheres de hábito da Irmandade das Mercês. Todos ajoelhados e de cabeça baixa. Quando o celebrante voltou-se para dizer o “Dominus Vobiscum” (Frase em latim que significa "O Senhor esteja convosco", cujo responso, é: "Et cum spiritu tuo" ("E com o vosso espírito") ), o zelador viu que o religioso tinha uma simples caveira no lugar da cabeça.
Assustou-se ainda mais com aquilo e, reparando melhor nos assistentes, agora de pé, constatou que os mesmos não passavam de esqueletos vestidos. Então, correu para a porta ao lado. Essa porta que dava para o cemitério do adro e, por inútil, vivia fechada com tranca e tramela, estava agora escancarada para a noite chuvosa, batida pela ventania.



07. Sedutora da curva


7/13 | Lendas urbanas brasileiras
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Há muito tempo, quem mora no bairro de Dois Unidos, Zona norte de Recife, ouve relatos sobre o espectro de uma mulher que aparece na curva que fica próxima a uma antiga fábrica existente no local. A história mais conhecida sobre esse fantasma é a seguinte: Certo senhor, voltava para casa tarde da noite, quando já não havia ônibus circulando. Ele tinha tomado umas a mais, e por isso estava "chamando urubu de meu loro", como dizem por aí. Mesmo com a visão meio "embaçada", observou perfeitamente quando, na tal curva, aquela mulher apareceu do nada. Ela era linda e loira, muito atraente mesmo. A mulher se aproximou do sujeito, perguntou se ele tinha um cigarro para dar. O homem disse que não, mas a conversa não parou por ali. Depois de umas palavras trocadas, e de pintar um clima de paquera no ar, o desavisado senhor passou a "mão boba" nas pernas da moça. E ai percebeu que ela era magra demais. Na verdade, só tinha osso! O sujeito olhou novamente o rosto da mulher e viu uma caveira! Desesperado, ele saiu correndo e só parou na porta de casa. Bateu e tocou com veemência a campainha. Como não foi atendido prontamente, acabou derrubando a porta - tudo para tentar se esconder da terrível assombração.


06. A gruta que chora


8/13 | Lendas urbanas brasileiras
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Contam lá nas bandas da praia da Sununga,  localizada na parte Sul de Ubatuba-SP, que há bastante tempo um moça muito bonita, de nome Marcelina, vivia com sua mãe na mais completa alegria. A jovem tinha a pele suavemente morena, olhos claros e cabelos negros, era belíssimo o seu corpo de menina nova, graciosa como que só.
De uma hora para outra, sem que nada acontecesse, Marcelina deixou-se cair prostrada em sua cama simples, sem vontade nenhuma, nem sorrir a bela moça queria. Sua mãe, Sinhá Anália, já havia percebido, não sem preocupação, que a menina estava diferente e parecia piorar conforme os dias se sucediam. Tentou de tudo, chás de ervas, banhos de folhas e flores, mas nada fazia efeito.
Sinhá Anália contava para as comadres o que estava acontecendo com sua menina e todos diziam que era problema de idade. Inconformada, perguntava à filha o que estava acontecendo, mas a menina era categórica, jurava que nada havia de errado e que comia pouco ou quase nada para não ficar gorda como umas mulheres que vira na cidade certa vez.
Não podia ser normal aquilo, Sinhá Anália bem o sabia, ainda mais depois que virou rotina acordar durante a madrugada com os soluços da filha. Como pensasse que era tristeza, conteve ao máximo seu ímpeto de correr ao quarto de Marcelina para saber o que se passava. Até que não resistiu e surpreendeu a moça soluçando palavras desconexas, como se pedisse para alguém não partir. A garota estava sozinha no quarto!
Depois de ser flagrada pela mãe, não restou alternativa a não ser contar a verdade. Foi com perplexidade que a mulher ouviu palavra por palavra, tudo meio sem nexo, sobre a história do dragão que morava na Toca da Sununga. Todo mundo conhecia o caso na região e até mesmo evitava passar por aquelas bandas. Os pescadores nem se atreviam a chegar perto porque as ondas gigantes engoliam canoa, rede, tudo. As pessoas sabiam que o tal monstro existia, mas só Seu Antero tinha visto. Era um bicho horroroso, tinha metade do corpo de dragão e a outra metade era roliça, como uma cobra, e se rastejava no chão.
Pois bem, desde que Seu Antero falou do dragão que vivia na gruta, Marcelina não parou de pensar nele, com um misto de medo e curiosidade. Contou à mãe que de tanto pensar no bicho, ele foi lá ter com ela, entrou no quarto no meio da madrugada. Vendo o assombro de Sinhá Anália, tentou acalmar a mãe, já idosa, dizendo que ele ficou encolhido, tão pequeno, que parecia não fazer mal a ninguém, até que virou um homem. A mulher não podia crer no que estava ouvindo, era loucura da sua filha, teria que chamar um doutor, aquilo de mostro virar homem não era certo, ainda mais dentro de sua própria casa. Depois falou que tinha passado a noite embalada nos braços daquele lindo moço de olhos claros.
Mesmo depois de uma noite tão especial, a garota sentiu-se infeliz porque o moço partiu logo ao amanhecer, quando o galo cantou três vezes. Ela ficou no quarto chorando, sem disposição para nada, só pensava em esperar a noite chegar para receber a visita do amado. Agoniada, a mãe da jovem, só podia rezar para todos os santos que conhecia, até promessa fez.
Demorou muito tempo e apareceu um velho pobre, andarilho, batendo à porta de Sinhá Anália em busca de um prato de comida. Ao entrar na casa, como faltasse assunto, a mulher foi logo narrando o drama de sua filha. Ouviu calado, inexpressivo, e ao fim do relato, disse já ter ouvido, bem longe dali, falar do monstro que atormentava a população daquele bairro. Por tal motivo ele estava lá, para expulsar aquela criatura do mal. Era uma espécie de mago e sabia como fazer isto.
Logo o bairro todo estava sabendo da vinda do ancião e na manhã seguinte todos se acotovelavam em frente à Toca da Sununga. Já no local, o pobre monge ergueu os braços e fez o sinal da cruz, acompanhado de todos que estavam lá, fez uma prece ao Senhor e aspergiu sobre a pedra que forma a toca um pouco da água que carregava consigo. Para espanto dos presentes, imediatamente um trovão violento fez estremecer a terra, e o mar se agitou violentamente, avançando sobre a praia, chegando a bater nas rochas. Depois as águas recuaram e o mar abriu-se ao meio, bem em frente à toca, por onde o mostro passou, horripilante, rugindo, para se esconder definitivamente nas profundezas do oceano.
Ninguém mais ouviu falar do dragão. Dizem que Marcelina viveu por muito tempo, acanhada e triste, porém bela como sempre fora!
“Hoje, quem se postar no interior da lendária gruta, perceberá cair lá de cima, das ranhuras da pedra, uma sequência de pequeninas gotas que se infiltram na areia branca e fina que alcatifa o chão. Dizem alguns que são remanescentes gotas da água benta aspergida pelo monge, que ainda caem a fim de que o dragão jamais possa voltar. Outros, porém, afirmam que são lágrimas de Marcelina, que lá voltou muitas vezes na esperança de que o dragão, feito moço bonito, ainda voltasse para ficar com ela a noite inteira até os albores da manhã!”


05. A Mão fina


9/13 | Lendas urbanas brasileiras
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Se você pesquisar na internet realmente não vai conseguir achar muita coisa sobre essa lenda. Ela veio do interior do nordeste, onde quando as crianças ficavam com má educação na mesa, ela era citada como um modo de discipliná-las.
Reza a lenda que a mão fina de uma criança amaldiçoada por ter sido muito sem educação e maltratar os pais durante a vida, viria por baixo da brecha da porta puxar o pé das crianças e até arranha-las. Bastaria um pouco de malcriação por parte de uma criança para que a mão fina viesse atacar. Essa era a ideia, mas claro que a mão fina realmente é uma lenda. Ou quando você foi sem educação com seus pais, alguma mão fina veio puxar o seu pé?


04. A Mulher emparedada


10/13 | Lendas urbanas brasileiras
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O crime chocante virou lenda registrada na imaginação do povo de Recife. Mas, não se tem a certeza de que esse terrível assassinato realmente ocorreu. A história foi contada pelo escritor Joaquim Maria Carneiro Vilela num folhetim – uma espécie de novela dividia em capítulos diários que saíam nos jornais de antigamente. O folhetim “A Emparedada da Rua Nova” foi publicado entre agosto de 1909 e janeiro de 1912 no Jornal Pequeno, que circulou por muitos anos na capital pernambucana. Carneiro Vilela narra uma tragédia com toques policialescos feita de traições, romances proibidos e ódios dissimulados. A trama, que se passa no século XIX, envolve a família de um rico comerciante chamado Jaime Favais. O personagem criado por Carneiro Vilela era dono de uma loja que funcionava no térreo do sobrado que ele possuía na Rua Nova, um endereço nobre no Recife daquela época.
Jaime era um homem grosseiro e vingativo. Ele descobre que Clotilde, sua única filha, engravidou de um malandro sedutor chamado Leandro. Para completar a confusão, esse sujeito também era amante da esposa de Jaime, Josefina. Jaime manda matar Leandro, Josefina enlouquece e o comerciante tenta casar Clotilde com um sobrinho seu, João, que trabalha na loja do tio. Como o rapaz se recusa, Jaime condena a filha ao macabro castigo. Amarra-a com cordas, cobre a moça com um lençol e a coloca num banheiro do sobrado. Com a ajuda de um comparsa, Jaime força um pedreiro a fechar com tijolos a porta do banheiro.
Depois de cometer essa infâmia, o comerciante foge para Portugal, onde passa três anos. Lá, Josefina morre. Jaime volta ao Recife para morar no andar de cima do sobrado. E no casarão é atormentado por “gemidos lúgubres” e pela visão da “figura branca e vaporosa de sua filha”, de acordo com Carneiro Vilela.
Até hoje, testemunhas garantem ter visto esta aparição num prédio comercial da Rua Nova. Neste local também ocorreriam fenômenos inexplicáveis como móveis sendo arrastados por mão invisíveis, soturnas batidas nas paredes, além de ser ouvido um choro lamentoso que seria da Empareda.
Não sabemos até que ponto Carneiro Vilela usou fatos verdadeiros para produzir o folhetim. Mas há relatos de esqueletos encontrados por trás de paredes falsas em alguns sobrados e casarões antigos de Recife. Os novos donos fazem reformas nos imóveis e acabam encontrando os restos mortais: provas de que a prática do emparedamento era comum em outros tempos. Pesquisadores dizem que não há como saber se as pessoas eram mesmo colocadas vivas nos cubículos ou situações assim eram tentativas de ocultar os cadáveres. Especula-se que esses corpos pertenceriam a escravos ou mesmo a integrantes das famílias ricas que eram vítimas de doenças que provocavam vergonha perante a sociedade, como a hanseníase ou insanidade mental.


03. A Carroça sem cavalo


11/13 | Lendas urbanas brasileiras
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Essa é uma lenda ocorrida em são Francisco do Sul, a cidade mais antiga do estado de santa Catarina. Conta-se que em noites frias de inverno, descia um forte nevoeiro trazido pelo mar, nessas noites ouviam-se barulhos estranhos. Os moradores da cidade, principalmente da Rua 10, eram acordados altas horas da madrugada, muito irritados com um barulho perturbador. Ao abrirem a janela de suas casas, se espantavam com a cena do outro mundo: viam uma carroça andando sem cavalo e sem ninguém puxando... andava sozinha.
Dentro da carroça haviam muitos objetos que faziam com que a carroça fizesse ainda mais barulho, como panelas, bules, inclusive alguns objetos amarrados do lado de fora da carroça. O medo simplesmente dominava os moradores da cidade, e o que eles faziam era fechar as janelas e portas das casas e esperar a assombração ir embora.
Contam as pessoas mais velhas que um carroceiro foi morto à coices de seu cavalo, dizem que o cavalo fez aquilo por sofrer mals tratos do carroceiro. Isso ocorreu nessa mesma cidade, e essa seria a origem da sinistra assombração. Nas noites de manifestação da assombração, a carroça aparecia de um nevoeiro, e assustava a população, e depois de um tempo voltava a desaparecer no nevoeiro.


02. A Moça sem face


12/13 | Lendas urbanas brasileiras
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Essa história faz parte do livro "Visagens e Assombrações de Belém", de Walcyr Monteiro, obra essa que resgata muitas histórias e lendas da capital paraense.

Vinícius era soldado do Núcleo do Parque de Aeronáutica de Belém. Brincalhão, bom camarada, era querido por seus companheiros de farda e superiores. Contador de anedotas, onde estivesse nos momentos de folga sempre tinha uma roda em volta. Estudante, fizera até a 4ª série ginasial antes de ingressar na caserna. Festeiro, frequentador das gafieiras de Belém, principalmente as do bairro de Marco, da Pedreira e de Canudos, era tido como bom dançador de merengue. Quantas vezes Vinícius não "pulou" serviço para "balançar o esqueleto" num dançará suburbano! Em várias ocasiões esteve para ser preso por tal motivo. Nunca dava alterações de outra natureza, mas se sabia que havia um "samba", Vinícius, estivesse ou não de serviço, ia bater lá. Fugia do quartel e ingressava triunfalmente na sede onde se ouvia o La Bamba ou outro sucesso musical da época. Depois, era arranjar uma "amiguinha" e pronto... veria depois.
Conhecia as histórias de aparições que se contavam do Parque, mas não lhes dava muita importância. Pelo menos dizia. E afirmava mesmo que, se visse alguma coisa, ia dirigir-se e pergunta:
— Que é que tu qué, meu irmão? Reza, missa, diz lá o que é. Se tu já morreste, fica pra lá. Não vm perturbar os vivos.
E, brincando sempre, levava tudo na gozação. Só que, no dia em que viu alguma coisa, que pensou depois ser assombração, não fez nada do que disse.
Ninguém podia duvidar que ele era corajoso. Disto já era provas em diversas ocasiões. E brigava bem.
Num dia de folga, em que os "dançarás" não funcionavam, Vinícius saiu trocando pernas pelo bairro do Marco. Desceu a Almirante Barroso e já se aproximando ao Largo de São Braz encontrou uma garota de branco, com o vestido clássico de "merengueira": decotado, curto para a época em que ainda não havia minissaia. Vinícius pensou: - Taí, vou "baixar" nesta "miquimba".
E dirigiu-se à moça.
— Que é que há, minha filha? Noite tá fria, boa pra fazer neném, hein?
Vinícius era assim. Nada de meias palavras. Era objetivo, direto, "entrava forte" mesmo.
A moça permaneceu como estava. Respondeu ao cumprimento e foi o bastante para o soldado colocar o braço pela suas costas. Conversa vai, conversa vem, Vinícius falando sempre, e a moça respondendo mais por monossílabos.
Saíram andando em direção a Canudos, pois ela havia dito que morava "para lá" indicando com o braço a entrada daquele bairro. O soldado tentara beijá-la várias vezes, e a moça sempre virava para o lado, de modo que Vinícius praticamente não pôde ver-lhe o rosto.
— Mas tu é metida a virgem, hein! E dizendo isto Vinícius tirou o braço das costas da moça, segurando-lhe a mão. Ao primeiro contado, Vinícius sentiu-se arrepiar: a mão da moça parecia gelo. Mas procurou raciocinar. Ora, a noite estava fria.
Naturalmente era por esta razão. Mesmo assim Vinícius começou a arrepender-se de ter "baixado" naquela "miquimba".
Continuaram andando Canudos adentro, na direção do Bairro de Santa Izabel. Vinícius falou:
— Mas tu mora longe, menina. Puxa vida! Depois de uma caminhada dessas, se tem de descansar. Porque, do contrário, o neném que a gente vai fazer já vai nascer cansado!
— Já estamos perto de onde moro. É logo ali.
Ao chegarem a uma esquina, a jovem parou.
— Rapaz, tu és muito corajoso! Gostei de ti, sabes? Mas é melhor que te vás embora. Não quero que te aconteça nada de mal.
Vinícius ficou admirado do rumo das coisas. A moça continuava de lado, sem virar-se de frente.
— Mas que é que me pode acontecer de mal? Tu é amigada? Ou é de teu "xodó" que tás com medo? De qualquer forma, se tu quisé ir comigo, é só dizer que vou. Ninguém é mais homem do que eu. Logo, digo pra ele que tu quiseste vir e pronto! E se ele quisé se balançar, não te incomoda que não vou apanhar, não.
— Não é nada dito. Não tenho "xodó", nem ninguém. Apenas deves ir embora. Eu te admirei muito e por isto estou sendo tua amiga. Eu não posso ir contigo, nem tu deves ir onde moro. Estou falando para teu bem. Adeus.
Ante ao desfecho inesperado, Vinícius titubeou um momento. Em seguida, segurou a moça violentamente pelo braço, puxou-a, colocando-a a sua frente, enquanto falava:
— Tu não vais me...
As palavras morreram em sua boca. Ia dizer: - Tu não vais me fazer de besta, não! Mas o que viu deixou-o paralisado. Quando terminou o movimento e ela ficou de frente, olhou para o seu rosto, procurando-lhe os olhos e então viu que sua face era alguma coisa informe, ou melhor, era como se ela não a tivesse. Aterrorizado, Vinícius recuou. A moça calmamente virou de costas, começou a andar, dizendo:
— Eu te avisei...
E dobrou a esquina.
Vinícius estava apavorado. Contudo, refletiu um momento e, sendo corajoso, rapidamente seguiu-a.
Para surpresa de Vinícius, não havia ninguém. A moça havia sumido. Ainda chegou a pensar que havia entrado numa casa qualquer próxima à esquina. Certificou-se que tal não tinha acontecido, que a moça sumira mesmo. Vinícius ficou todo arrepiado. Quis se mexer e não conseguiu. Só então tomou consciência que estava próximo ao Cemitério de Santa Izabel.
Quando pôde se mexer, Vinícius saiu desabalada carreira por dentro de Canudos e, sem parar, subiu a Almirante Barroso até o Parque de Aeronáutica.
Foi surpresa geral quando Vinícius chegou todo afobado, cansado, gaguejando e sem conseguir dizes nada. Os poucos soldados que estavam acordados providenciaram água com açúcar, e, depois de muito tempo, conseguiu relatar sua história, jurando que todo aquele tempo estivera conversando com um fantasma.
Apesar de sua expressão de pavor, alguns ficaram incrédulos.
— Só depois é que reparei que ela não virava o rosto na minha direção. Aliás, não lhe vi a face.
E era gelada, meu irmão, vou te contar. Esta mulher não era gente viva, não era, não! Eu é que não quero acordo com estas coisas.
Troçaram com Vinícius.
— Taí, tá vendo o que dá andar querendo conquistar todo mundo? Vai nessa, vai!
Daí em diante, Vinícius, quando queria "baixar" em uma "miquimba", olhava seu relógio. Se era tarde da noite, podia ser a mulher mais linda do mundo, que Vinícius ficava fora da jogada...e dizia:
— Eu, hein!


01. O Fantasma de Tereza Bicuda


13/13 | Lendas urbanas brasileiras
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Tereza Bicuda era uma moça de lábios grossos que lhe valeram o apelido de bicuda. Morava em Jaraguá, no Larguinho de Santana. Pessoa de maus bofes, tratava a mãe de forma absolutamente cruel: botava a velha para mendigar nas ruas, batia nela, humilhava. Um dia, chegou ao extremo da maldade e, diz o povo, colocou um freio de cavalo na bocada da genitora, montou, e nela andou montada à frente de todo o povo. Aquilo foi demais: a pobre mulher morreu mas, antes, excomungou a filha desnaturada.
No meio religioso e de extrema moralidade da antiga Vila de Jaraguá, Tereza Bicuda era uma aberração social. Descrente, nunca visitava a igreja.
Quando era forçada a passar diante de alguma, virava o rosto e praguejava baixinho. Trabalhava aos domingos. Pra que o povo visse que não respeitava as tradições eclesiásticas.
Era a ofensa à consciência das velhas beatas, que diariamente frequentavam as igrejas e capelas de Jaraguá.
Um dia, Tereza Bicuda morreu.
Nem uma lágrima surgiu de algum olho cristão. Não merecia lágrimas nem piedade quem não soubera viver e não chamara o padre no seu último momento.
Era costume colonial enterrar os defuntos no corpo das igrejas. A capelinha do Rosário, situada ao sopé de suave colina, sempre fora a depositária dos corpos pobres, que não podiam ter o luxo de serem enterrados dentro da matriz. Na capelinha do Rosário foi então enterrada Tereza Bicuda, sem cerimônia preliminar.
Por três noites consecutivas, ao soar da meia-noite, a população ouvia medrosa os gritos que soltava Tereza Bicuda pedindo que retirassem o seu corpo de dentro da capelinha. Ali não era o seu lugar na morte, como não fora em vida. À meia-noite em ponto, Tereza Bicuda saía do seu túmulo e percorria as ruas quietas da vila, gritando desesperadamente.
O terror gelava os que a ouviam. Daquela noite em diante, os notívagos viam sempre surgir lá no fim da rua um imenso vulto branco a correr, deixando cair das suas vestes sujas línguas de fogo, que enchiam o ar do cheiro desagradável de enxofre. Por onde passava, iam ficando os vestígios de seus pecados.
A grama queimada ou secava. Os animais traziam pelos sapecados.
O povo quis pôr um termo ao martírio que vinham sofrendo. E os homens mais corajosos da vila exumaram Tereza Bicuda e levaram seu corpo, já em vermes, para a serra de Jaraguá.
Ali, num lugar pedregoso o jogaram. Um forte cheiro de enxofre enchia o ar.
No local numa mais surgiu uma planta, mas também Tereza Bicuda não mais aterrorizou com seus gritos a pacata população jaraguaense.
Na Serra de Jaraguá existe ainda o local onde dizem que ela foi enterrada, onde hoje há uma cruz de madeira. As pessoas dizem que lá possui um pé de caju assombrado e se você tentar pegar os frutos da árvore será atacado por um enxame de abelhas. Além disso, dizem também que nas noites de lua cheia se você tentar subir na Serra a própria Tereza Bicuda aparecerá pra você e lhe montará como ela fez com a sua mãe.



Zona 33


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